Quem poderia dizer não a um projeto que promete acesso à Internet para todas e todos? Starlink, uma constelação global de satélites de baixa órbita (LEO), dominou a imprensa em 2023 com anúncios do seu serviço em vários países africanos. Finalmente, banda larga para todos! Parece o caso perfeito de uma solução tecnológica que resolve um desafio antes insolúvel. Mas nem tudo pode ser o que parece.
Editorial da 26ª edição
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Salomão David, doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de Lugano, em seu artigo “TV white spaces para o acesso à banda larga nas zonas rurais de Moçambique - Estudo de caso: Distrito de Boane”, descreve o uso da tecnologia TVWS para prover acesso à banda larga, a exemplo do que tem sido feito em outros países, como Canadá e Estados Unidos. A iniciativa consiste no uso de faixas não utilizadas no espectro radioelétrico, chamadas de white spaces, para criar redes de Internet que permitem a ampliação do acesso à Internet em regiões desprovidas de infraestrutura.
Steve Song, ativista de políticas de telecomunicação locais, empreendedor social e fundador da Village Telco, também escreve sobre acesso à Internet na África. Ele argumenta que é possível reduzir os custos da oferta de acesso à rede se os governos utilizarem a infraestrutura nacional de fibra óptica para compartilhar sua capacidade para utilização por pequenos operadores, por meio de um “veículo de propósito especial”.
Michael J. Oghia, mestre em Sociologia e consultor sobre governança da Internet, mostra a importante relação entre o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade do acesso às tecnologias da informação e da comunicação. Ele nos ensina que a produção de lixo derivado dessas tecnologias cresce em ritmo mais acelerado do que outros resíduos e que não sabemos o que fazer com ele. Isso coloca em xeque não apenas o futuro do planeta, mas também a ampliação do acesso por parte da população que ainda não o tem.
Por fim, Tim Berners Lee, criador da World Wide Web, cientista da computação e professor do MIT, em seu artigo “Sobre extensões de mídia criptografadas em HTML5”, defende que o W3C endosse o padrão Extensões de Mídia Criptografada (EME – Encrypted Media Extensions) conectado a um sistema existente de gerenciamento de direitos digitais e explica por que assume essa posição, apesar dos problemas relacionados ao DRM. Seu artigo expõe questões controversas perante ativistas da Internet livre, que têm se manifestado contra a iniciativa. Portanto, nada mais justo e interessante do que publicar, nesta mesma edição, a carta aberta de Cory Doctorow, representante da Electronic Frontier Foundation (EFF) no Comitê Consultivo para o W3C. A EFF é uma organização norte-americana sem fins lucrativos em defesa das liberdades civis no mundo digital que se opõe veementemente à adoção do padrão em questão. A carta é surpreendente.
Boa leitura!