poliTICs 35

EDITORIAL

A resenha que Oona Castro e Helena Aragão apresentam do processo político que culminou no ataque às principais estruturas do governo federal em Brasília em oito de janeiro de 2023 é reveladora da extensão com que grupos organizados articularam-se utilizando todos os recursos oferecidos pelas redes sociais para mobilizar os aderentes ao bolsonarismo em torno de um novo golpe empresarial-militar. A presença maciça de beligerantes no ataque de Brasília foi amplamente financiada por vários setores empresariais, que já vinham apoiando os piquetes (apoiados por militares) nas portas dos quartéis desde que o bolsonarismo desatou uma campanha contestando a lisura do sistema eletrônico de votação.

Os autores Rodrigo Firmino e Fernanda Bruno analisam as circunstâncias em que uma agenda de resistência às consequências culturais, sociais e políticas do colonialismo (uma agenda decolonial, segundo o conceito detalhado por Anibal Quijano1) para os países latinoamericanos foi construída por estudiosos, ativistas e artistas associados à Rede Latino-Americana de Estudos de Vigilância, Tecnologia e Sociedade (LAVITS). O trabalho da rede sempre se beneficiou do pensamento crítico formado no campo dos estudos de vigilância com contribuições cruciais vindas da Rede de Estudos de Vigilância e da Surveillance & Society nos últimos vinte anos.

Serene Lim faz uma resenha da evolução e estado atual da Internet em um contexto de dominação de plataformas por transnacionais tecnológicas, em relação à violência online baseada em gênero. Nas palavras de Lim, "nossa identidade social, ou seja, de classe, gênero, orientação sexual, etnia, religião, capacidade corporal etc, ainda dita nossa capacidade de aceder a espaços digitais e a qualidade de nosso envolvimento nesses espaços".
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1. “É a instrumentalização das razões do poder, do poder colonial em primeiro lugar, que produziu paradigmas distorcidos do conhecimento e prejudicou as promessas libertadoras da modernidade. A alternativa, então, é clara: a destruição da colonialidade do poder mundial. Em primeiro lugar, a descolonização epistemológica, como decolonialidade, é necessária para abrir caminho a uma nova comunicação intercultural, a um intercâmbio de experiências e significados, como base de uma outra racionalidade que pode legitimamente pretender alguma universalidade.” -- Anibal Quijano, "Colonialidade e Modernidade/Racionalidade", Cultural Studies Vol. 21, nºs 2-3 março/maio 2007, p.177

Março 2023 | Expediente

Arquitetura da destruição? O que o 08-01-23 nos diz sobre o uso das plataformas contra a democracia

Em oito de janeiro de 2023, o Brasil virou notícia em todo o mundo. A invasão e o quebra-quebra do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional em Brasília, capital do país, foram exibidos com destaque.

Construindo uma agenda latino-americana de estudos sobre vigilância, tecnologia e sociedade

Tornou-se incontornável questionar as condições de constituição dos arranjos sociotécnicos de vigilância em diferentes contextos, e com isso assistimos a um aumento do interesse por estudos dedicados à compreensão das especificidades da construção social e histórica da vigilância nos países latino-americanos desde ontologias e epistemologias mais próximas de suas realidades.

Misoginia como mercadoria nos espaços digitais

Não faltam evidências e pesquisas que mostram que a violência online baseada em gênero é a mesma velha história de um desequilíbrio de poder político, econômico, cultural e social para manter uma hierarquia de status baseada no gênero de alguém – um sistema que muitas vezes privilegia a experiência de homens cisgênero heterossexuais. No entanto, existem aspectos nos espaços digitais que incentivam a proliferação da violência de gênero contra mulheres cisgênero, pessoas transgênero, queer e pessoas de gênero não conforme.

 

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